sexta-feira, 9 de abril de 2021

Gênero é como sapato que, felizmente, você pode trocar se
não se sente
confortável com o que está usando no momento.

Quando se trata de gênero, as pessoas têm o direito de se classificarem e de se rotularem como bem quiserem porque, a rigor, existem tantas categorias de gênero nesse mundo quanto o número de pessoas, portanto, hoje, mais de 7 bilhões. Ou pelo menos deveriam ter esse direito, porque não faz o menor sentido alguém ser forçada, de fora para dentro, a ser classificada numa categoria de gênero em que não se sente confortável. 

Gênero não é como o tamanho do seu pé ou a sua altura, que dificilmente você conseguirá mudar durante sua vida, mesmo insistindo em cirurgias plásticas. Gênero é como sapato que, felizmente, você pode trocar se não se sente confortável com o que está usando no momento. E sapato, todo mundo sabe, a gente não só tem que gostar dele, esteticamente falando mas, sobretudo, se sentir confortável dentro dele. Caso contrário, é um inferno ter que se locomover com ele no dia-a-dia. No caso do gênero, pela vida afora.

Gênero não é uma herança biológica: ninguém “nasce” numa categoria de gênero. As pessoas nascem numa categoria de sexo genital, que é um dado da natureza, e que se resume a apenas 4 categorias: macho, fêmea, intersexuado e nulo, sendo macho o indivíduo que possui pênis; fêmea o indivíduo que possui vulva-vagina; intersexuado, o indivíduo que possui as duas coisas, ainda que em proporções diferentes; e nulo, o indivíduo no qual não se pode distinguir, a olho nu, nenhum traço de órgão genital, como em alguns casos raros em que os bebês nascem com a síndrome do baixo ventre aberto, do umbigo ao ânus.

A sociedade se apropria das duas primeiras categorias, machos e fêmeas – que são também absolutamente as mais comuns – , para emplacar suas categorias sociais, respectivamente, de homem e mulher, “forçando literalmente a barra”, no caso de indivíduos intersexuados, para classifica-los de que modo for em uma das duas categorias existentes de homem e mulher.

Como dizia Simone de Beauvoir, em sua histórica obra O Segundo Sexo, de 1949, “ninguém nasce mulher: aprende a ser”. Igualmente, ninguém nasce homem, ninguém nasce travesti, transexual, andrógino, não-binário, muxe, kathoey, faa-fine ou seja lá o que for. TODAS as categorias de gênero são APRENDIDAS, através de um gigantesco e permanente esforço coletivo de adestramento das pessoas para serem o que os discursos de gênero dizem que elas devem ser.  

Judith Butler mostrou-nos que, diferentemente do sexo biológico, o gênero não tem nenhuma substância. Trata-se, como ela diz textualmente, de uma paródia de uma peça que não possui original. O que faz a paródia ganhar força e existência é o fato dela ser “performatizada”, ou seja, representada e repetida à exaustão.

Gênero é um conjunto de discursos normativos de que como deve ser o comportamento sociopolítico-cultural das pessoas, envolvendo atritutos pessoais, atitudes psicossociais, papéis, direitos, deveres, privilégios, desigualdades, etc..

Não faz absolutamente nenhum sentido brigar por uma dada categoria de gênero – homem e mulher –, a não ser para restituir a igualdade de direitos e oportunidades que deve existir entre todos os seres humanos, e que é abertamente confiscada, para não dizer roubada, das pessoas, em função de miseráveis diferenças anatômicas que, também, não passam de discursos.



Um comentário:

SERGIO VIULA disse...

Excelente iniciativa e excelente oost! 👋👋👋👋