sábado, 24 de julho de 2021

O direito a uma vida comum

O primeiro direito que nos está sendo negado pela "modernidade" das redes sociais, sócias de primeira hora do neo-liberalismo tosco baseado no individualismo e no culto exacerbado ao ego, é o direito de sermos criaturas simples, medianas e comuns. O direito de viver uma vida que os padrões da sociedade neoliberal consumerista considera como absolutamente medíocre. Mas que é essencialmente VIDA, sem o pragmatismo neurótico, absolutamente estressante, de ficar buscando um "significado" para a vida, além do puro e simples viver. 

Todo mundo correndo feito cavalo para encontrar um "significado" para suas vidas comuns. E não apenas um "significado", mas um lugar de reconhecimento e proeminência dentro da sociedade. Ser bustificado (virar busto em praça pública), enciclopeidado (virar nome de destaque nos verbetes das Wikipédias...) e emplacado (virar nome de rua) transforma a vida de cada pessoa num verdadeiro inferno, com as pessoas fazendo que podem e, sobretudo, o que não podem, para ganhar “likes”, ou seja, o beneplácito, o reconhecimento do “olhar” do outro. 

Daí a abundância absolutamente degenerada de youtubers, influencers e trend setters, todos enlouquecidos para mostrar o quanto são lindos, inteligentes, habilidosos, espertos, ricos e famosos. Todos tentando loucamente se suplantarem uns aos outros, na corrida maluca por seus quinze minutos de fama que, segundo Andy Warhol, todo mundo teria no futuro. 

Mas a vida é só para viver. Como dizia Darcy Ribeiro, o índio sempre incomodou terrivelmente o branco porque seu desejo se resumia a comer, dormir e trepar. Ou seja, para o índio, o significado da vida é só viver: viver e não ter a vergonha de ser feliz. Algo que soa absolutamente medíocre para a pessoa contemporânea neoliberal consumerista, que passa os dias fazendo das tripas coração a fim de se torna minimamente reconhecida, rica e famosa. 

A fim de não ser considerada fracassada, perdedora e medíocre nessa sociedade de bosta em que vivemos. Pois é. Chegamos a um tempo em que ser uma pessoa mediana e comum deixou de ser uma contigência da vida para ser uma escolha consciente. 

O que você prefere? Morrer anônima, como alguém comum e mediana ou morrer estressada, com síndrome de burn-out, deprimida, ansiosa e angustiada, tentando ser “alguém” que nem você sabe direito quem é?

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