quinta-feira, 8 de julho de 2021

O que é "Poder"


Poder é a capacidade de submeter pessoas, grupos, coisas e situações.

A primeira forma de poder que a humanidade deve ter conhecido foi o poder da força - hoje conhecido como poder bélico – capaz de submeter pessoas, grupos, coisas e situações graças à superioridade física e/ou a posse de armamentos e instrumentos de violência, tortura, aprisionamento e morte.

A segunda forma de poder que a humanidade conheceu foi o poder eclesiástico ou clerical, capaz de submeter pessoas, grupos, coisas e situações por sua “habilidade” em “se comunicar” diretamente com as “forças divinas” e/ou “demoníacas”. É o poder do feiticeiro, do pajé, do mago, do padre, do papa, do reverendo, etc.

O terceiro poder que a humanidade conheceu foi o poder econômico, capaz de submeter pessoas, grupos, coisas e situações através da acumulação e posse de riqueza, com a qual, inclusive, era possível formar e manter grandes exércitos, além de templos e igrejas para veneração de “deuses benfazejos” ao capital.

A quarta forma de poder – o poder político - resultou de um pacto entre os três poderes anteriores – o bélico, o eclesiástico e o econômico – que trataram de criar “sistemas representativos” que pudessem atuar em nome dos três sem “comprometer” os interesses particulares de nenhum deles. Ao longo da história, o poder político se sustenta a partir do poder bélico, do poder econômico e do poder religioso.

Uma quinta forma de poder, cuja origem é a imprensa de Gutenberg, veio, de alguma forma, “balançar” – e, hoje em dia, balança cada vez mais – o equilíbrio interesseiro entre as quatro formas anteriores de poder. É o chamado “poder da informação” em que é possível submeter pessoas coisas e situações em função da acumulação, controle e distribuição de dados, informações e estoques de conhecimento.

No estágio atual da humanidade, o poder da informação já mostra claramente a sua superioridade em relação aos poderes anteriores. A inteligência artificial e a força de “catequização” e “convencimento” das redes sociais já é uma realidade contundente. Com sua capacidade literalmente infinita de coletar, analisar, sintetizar e controlar informações e conhecimentos de toda natureza, a inteligência artificial já é a grande detentora de poder nesse planeta: a Matrix já é o nosso dia-a-dia.

Talvez já seja tarde demais para recorrer a outros expedientes. O capital já se aliou à informação e ambos impõem o ritmo do mundo contemporâneo, com o patrocínio de governos e representações “populistas”, títeres dos seus interesses de dominação e controle, e de religiões fundamentalistas, que nos remetem à república distópica de Gilead, narrada por Margareth Atwood em “O Conto da Aia”.

Há, felizmente, uma sexta forma de poder, mais forte do que todas as anteriores, que é o poder do povo. Todo mundo já ouviu o velho jargão, presente em todo movimento social de massa: “o povo / unido / jamais será vencido”. O poder do povo é o poder da liderança – não do líder, mas da liderança. Porque o líder não existe em si mesmo, mas como um reflexo da vontade soberana do povo (livre e não manipulado pelas outras formas de poder). O carisma do líder não está no líder, mas no olho do liderado. E hoje, o que mais existe, é uma capacidade absurda de se criar “líderes” fazendo com que eles repitam discursos que constituem grandes demandas do povo.

Diante desse quadro, simples e, ao mesmo tempo, extremamente complexo, a minha reflexão é quanto à real existência de alguém representar os verdadeiros interesses e necessidades do povo. Não um populista, salvador da pátria (dele e dos grupos que representa...) mas capaz de resgatar, ordenar e administrar os interesses e necessidades do povo enquanto povo. É possível surgir um líder assim, que exerça o poder “em nome do povo, pelo povo e para o povo”, como recomenda o princípio mais básico e elementar da democracia? Será possível o surgimento de um “escolhido” que, como no filme Matrix, consiga livrar o povo do jugo inexorável dos outros cinco poderes, alinhados em um pacto sinistro para defesa intransigente dos seus próprios interesses de classe? 

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