Há dois tipos de jogos: os jogos lúdicos e os jogos bélicos, ou jogos de guerra. Os jogos lúdicos, que são rituais e expedientes de interação entre pessoas baseados no prazer, no riso, no cuidado mútuo e recíprocos, estão no próprio DNA dos primatas, grupo de mamíferos altamente gregários, ao qual o ser humano pertence, junto com chimpanzés, bonobos e gorilas. O resultado dos jogos lúdicos é sempre a satisfação e o gozo de todas as pessoas que dele participam, onde todas são vencedoras porque aqui não existe a ideia de "ganhador", mas de participantes.
Os jogos bélicos, ao contrário, são rituais e expedientes de conquista, dominação e submissão, baseados na guerra aberta e/ou dissimulada entre os participantes. Para vencer, o jogador deve suplantar, ultrapassar todos os demais, mostrando-se superior a eles, eliminando-os um a um, e até passando por cima deles, destruindo-os com violência, sem nenhuma ética ou respeito a qualquer tipo de regra. O resultado dos jogos bélicos é sempre terra arrasada, em volta de um “vencedor” todo-poderoso, que se mostrou mais capaz do que todos os demais participantes.
Ao longo da história da civilização, os jogos lúdicos de interação social tornaram-se notadamente “femininos”, vinculados ao cuidado, ao relacionamento interpessoal amoroso, divertido e prazeroso entre os seres humanos. Assim como os jogos bélicos, que foram progressivamente se tornando jogos “masculinos” por excelência, baseados na força, no autoritarismo, na conquista, na dominação. Jogos lúdicos são jogos de paz; jogos bélicos, jogos de guerra.
Rodado em plena guerra-fria, quando EUA e URSS se armavam até os dentes para “se defender” (leia-se: destruir uma à outra), o filme Jogos de Guerra (EUA, John Badham, 1983) é uma inteligente metáfora da disfuncionalidade dos jogos bélicos. O filme é sobre um nerd que só queria piratear joguinhos na rede e quase provoca a terceira guerra mundial ao entrar, por acidente, nos computadores do Pentágono.
O final do filme chega a ser apologético quando o computador do Pentágono, programado para rejeitar qualquer tipo de comando externo quando fosse ativado o “jogo” da 3ª Guerra Mundial, conclui, dando os parabéns ao cientista que o programou, pois ele tinha inventado um jogo em que a melhor forma de ganhar era não jogar.
Infelizmente, não parece ser o raciocínio da macharada em polvorosa com seus terríveis jogos de destruição das pessoas, das relações e do meio-ambiente. Jogos estimulados dia e noite por um mercado absolutamente sem ética, e por uma mídia desvairada, sedenta de sangue e destruição com que preencher o vazio de vidas humanas que não sabem mais jogar em paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário