Trabalho duro, empenho, esforço e dedicação não significam de maneira nenhuma garantia de bons resultados. Quantas vezes você já ouviu alguém dizer, fora as vezes que disse para si mesma: “tanto trabalho duro, tanto esforço, empenho e dedicação... para nada...”.
Trabalho duro, empenho, esforço e dedicação são justificativas muito presentes no repertório da chamada meritocracia neoliberal, segundo a qual pobre não sobe na vida exatamente porque não quer saber de se esforçar, de trabalhar duro, de se empenhar e se dedicar muito além das suas forças.
Daí a romantização, cruel e pernóstica, que o sistema neoliberal é capaz de fazer de uma senhora de 80 anos, vendendo balas num semáforo, a fim de ter o que comer. Daí o elogio, podre e deslavado, de um jovem de 22 anos, que conseguiu concluir seus estudos de direito limpando privadas na mesma escola em que se formou.
Trabalho duro, empenho,
esforço e dedicação SEM OPORTUNIDADES, além de uma boa lufada de sorte,
só servem para criar ressentimento, medo, vergonha e culpa na cabeça da
pessoa que nadou, nadou, nadou e acabou morrendo, mesmo tendo chegado a
poucos metros da praia.
Eu não alcancei a recompensa PORQUE EU
NÃO MERECI é a conclusão óbvia e mentirosa que tentam nos enfiar goela
abaixo, hoje impulsionada pela praga do coachismo "vai que você
consegue" e do evangelismo da prosperidade. Se Deus não me ajuda, é
porque eu não mereci. Dá nojo pensar que a grande maioria das pessoas
está condenada a pensar uma coisa dessas, morrendo de CULPA por não ter
se esforçado "um pouquinho mais"...
Desprezo total pelas
condições estruturais do país, que bate a “porta da esperança” na cara
na maioria das brasileiras e brasileiros, mal eles e elas saem do útero
de suas mães. Terra de oportunidades apenas para quem já nasce com
oportunidades no DNA e ainda tem o despautério de bater no peito e dizer
que trabalhou duro, que se empenhou, que se esforçou e se dedicou
“acima das suas forças”. Impulsionada por nome de família importante,
círculo de relações mais importantes ainda e saldo bancário, no país e
no exterior, não tem “trabalho duro” (aff!) que não seja regiamente
recompensado.
O resto é conversa pra boi continuar dormindo,
deitado eternamente em "berço esplêndido", embalado por elites
econômicas, políticas, jurídicas e religiosas que desde sempre têm seu
"boi na sombra".
Um comentário:
Excelentes observações!
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