Esses complexos conceitos metafísico-teológicos iam descendo por nossa goela abaixo como emulsão Scott, o óleo de fígado de bacalhau que nos ministravam todos os dias antes do almoço, que era horrível, que a gente detestava, não fazia a menor ideia do que era, mas que éramos obrigados a tomar “para o nosso bem”.
- Os preços estão aumentando que é um absurdo! Escutava minha mãe, decepcionada e enfurecida, comentar com minha vó quando voltava da feira. Minha vó interrompia a batida monótona da máquina de costura sem motor, erguia os olhos por cima do óculos, e dizia para minha mãe: - Ninguém aguenta mais essa carestia. E não vão ser esses nossos políticos ladrões para acabar com ela.
Ratos da barriga branca: era assim que minha vó se referia aos políticos ladrões, responsáveis pela carestia. Eu escutava tudo atentamente, do alto dos meus oito-nove anos. E desde então, não teve mais jeito. É alguém falar comigo em carestia e eu associar imediatamente com eucaristia, catecismo, alta generalizada de preços, hóstia e ratos da barriga branca, invadindo nossas casas, à luz do dia, para roubar, covarde e impunemente, o nosso suado sustento.
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