Sem existir culpa, não pode existir sociedade, já que a culpa é, em última análise, o mecanismo psíquico que regula o comportamento dos indivíduos em sociedade. É o sentimento de culpa que impõe limites ao comportamento das pessoas, fazendo com que elas desistam de realizar uma ação imoral ou ilegal. Mas pouca gente já pensou que o oposto de culpa é mérito.
Ao contrário da culpa, que a faz a pessoa se sentir envergonhada diante do mundo, o mérito faz a pessoa se sentir orgulhosa de si mesma. Enquanto culpa produz vergonha, mérito produz orgulho. Não é à toa que os grandes expoentes do neoliberalismo aleguem sempre, em primeiríssimo lugar, o próprio “mérito empreendedor”, em defesa do orgulho que sentem por suas “conquistas” que violam flagrantemente a ética, a legalidade e a moralidade, destroem o meio-ambiente e exploram despudoramente o trabalho das pessoas.
Gente pobre, simples e “normal” sente culpa – além de todas as medidas – e raramente consegue ver mérito nas suas ações. Gente rica, ao contrário, pertencente às elites do poder, só sente méritos – além de todas as medidas – e raramente sente culpa pelos seus atos, que agridem de maneira severa toda a coletividade.
Quando você sentir muita culpa por alguma coisa, tente mover sua barrinha para o campo do mérito. Você tem, sim, direito de desfrutar de um bom almoço porque trabalhou por ele. Sua culpa vai diminuir sensivelmente, pode acreditar, assim como a tendência a você ficar deprimida por não estar sendo capaz de resolver o problema da fome na sociedade.
Difícil mesmo é convencer alguém que só sente mérito em sentir um pouquinho de culpa e responsabilizar-se por ajudar a resolver os grandes problemas da humanidade, em vez de aumenta-los mais ainda, em nome de uma falsa meritocracia, estabelecida com base em valores puramente materiais e anti-humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário