Depressão é uma reação psíquica totalmente previsível quando alguém chega à conclusão, quase nunca de forma consciente, que não está sendo capaz, que nunca vai ser capaz, de atender às inumeráveis exigências e expectativas sociais que a família, o trabalho, os amigos e até os inimigos puseram em suas costas.
A pessoa se envergonha do seu desempenho medíocre diante dos elevadíssimos padrões estabelecidos pela sociedade e o resultado é um sentimento geral de impotência, de cansaço, de desânimo e de incapacidade de seguir adiante. É como se a pessoa chegasse à conclusão que não vale mais a pena estar viva, que é melhor desistir de tudo, abandonar todos os sonhos e projetos porque não vale a pena nadar tanto para morrer na praia.
Mas a depressão também aparece quando alguém passa muito tempo fazendo uma força gigantesca para alcançar um objetivo e consegue finalmente alcança-lo, a duríssimas penas, para só então compreender que não era nada daquilo que ela queria, que não está nem um pouco confortável dentro da “camisa-de-força” do sucesso, poder, dinheiro, beleza e fama que conquistou.
Em ambas as situações, tanto de sentimento de derrota acachapante quanto de vitória desconfortável e enganosa, a grande responsável pela situação não é a pessoa, mas a sociedade. É muito importante compreender isso para não entupir a pessoa de remédios sem faze-la ver que os padrões da sociedade não irão mudar tão cedo. Que é ela que tem que aprender a conviver com as propostas indecorosas que a sociedade lhe impõe. Que é ela que tem que ser capaz de dizer NÃO a issotudoquetaí e viver numa boa, sendo apenas a pessoa que ela é.
Restituir a força do desejo de uma pessoa deprimida é fazer com que ela descubra que está na vida para viver – e não para ser bustificada, emplacada e enciclopeidada. Que é perfeitamente possível – além de altamente necessário – uma pessoa ser somente ela mesma, sem toques nem retoques, mesmo que essa “ela mesma” esteja completamente fora das exigências impostas pela sociedade.
Como todo mundo é treinado desde cedo para dizer SIM a todas as regras de conduta que a sociedade estabelece, a maioria das pessoas não desenvolveu a coragem necessária para dizer SIM a si mesma e NÃO às exigências dos outros (família, trabalho, religião, sociedade).
Diante desse fato irrefutável, a tendência é que seja cada vez maior e mais devastadora essa epidemia de depressão que se abate sobre a sociedade de consumo, a sociedade capitalista-neoliberal em que, para SER, é necessário TER e APARECER.
Um comentário:
Obrigada Letícia.
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