quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Falando merda

Manifestações de fúria e braveza sempre foram garantia de auditório cheio. Por medo ou covardia, a maioria das pessoas se rende facilmente a qualquer argumentação, por mais tola e vazia que seja, quando ela é apresentada em tom exaltado, com o orador falando alto, gritando e gesticulando muito. As pessoas prestam mais atenção na performance enlouquecida e tresloucada do orador do que no conteúdo da sua mensagem. Religiosos fundamentalistas sabem disso e por isso mesmo não abrem mão de performances completamente ensandecidas para apresentar suas mensagens e ameaçarem as pessoas e as instituições com base nas suas pautas bíblico-moralistas.

Escrevinhadores contumazes das redes sociais também já descobriram a força da oratória enfurecida, recheada de ataques à reputação e à idoneidade dos seus desafetos, repleta de palavras agressivas e críticas gratuitas, com que tentam convencer o auditório da “sabedoria e discernimento” superiores de que se julgam possuidores. 
 
Todos os dias, percorrendo as redes sociais, vejo autores, cientistas e pesquisadores do mais alto calibre sendo grosseiramente atacados, achacados e cancelados por pessoas visivelmente destituídas, não apenas de preparo intelectual, mas do mínimo de honestidade e sensatez.
 
Os argumentos – pífios e desbaratados – são apresentados de modo açodado e enfurecido, como quem procura nitidamente compensar, através da palavra bruta, a falta absoluta de críticas substanciais e bem fundamentadas aos seus desafetos. 
 
Houve uma época em que eu, ingênua e bobamente, cheguei a tentar apresentar argumentos e explicações sólidas a alguns desses espertos contraventores do uso civilizado da palavra. Mas logo logo descobri que o objetivo dessa gente não é de conduzir nenhum debate sério e honesto, e sim fazer valer suas crenças rasas e mesquinhas a respeito de pessoas, coisas e fatos do nosso dia-a-dia. Em uma palavra, esse povo só quer aparecer e afirmar a supremacia das suas crenças e valores, por mais esdrúxulas e despropositadas que sejam. 
 
É inútil tentar trazer evidências empíricas para confrontar a ignorância, boçalidade e estupidez desse povo. Eles não estão de maneira nenhuma interessados em nenhum debate científico, filosófico, ético ou estético das suas “absurdidades”, mas puramente desejosos de impor o seu autoritarismo sem qualquer preocupação com a realidade dos fatos ou com o respeito às pessoas envolvidas. “Não importa o que digam, é assim que eu penso, e não ousem pensar diferente de mim se quiserem preservar a sua tranquilidade e a sua reputação” - é assim que pensam e agem.
 
O pior é que esse povo ainda se acha perfeitamente democrático e libertário! E são capazes de ampliar o seu discurso fascista em muitos decibéis se se sentirem minimamente “ameaçados” pela “força da razão”. 
 
Não por simples coincidência, esse posicionamento autoritário, besta e hostil, ganhou espaço e cresceu vertiginosamente nos últimos quatro anos, sob a regência de um governo que é a cara da ignorância, da imbecilidade e do desprezo por qualquer forma de diálogo baseado no pensamento lógico e racional. 
 
Vai chegar uma hora em que esse povo se esgotará como qualquer esgoto ao ser desentupido. Mais cedo ou mais tarde, esse povo desentupirá, jorrando sua fala e escrita para os subterrâneos da história, como sempre aconteceu até aqui na marcha da civilização.
 
Enquanto isso, o melhor a fazer é desprezar solenemente os conteúdos absurdos e desvairados que insistem em postar, jamais contra-argumentando com eles ou os contrariando em suas asquerosas colocações. 
 
Deixar que eles se envenenem e se esvaziem com o próprio fedor pastoso e nocivo das suas colocações.

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