Tenho certeza que você já rejeitou prontamente a minha colocação dizendo não ser você quem escolhe o seu enredo, mas o mundo cruel e sacana em que está vivendo. Mentira: é você mesma. O mundo lhe fornece o palco, com certeza. Mas é você quem escolhe a peça e a personagem que quer representar.
Agora sim: o mundo treina todo mundo para viver tragédias, não comédias. O elemento dramático, o desfecho trágico, estão no DNA da humanidade, especialmente no pensamento judaico-cristão que está na raiz da nossa sociedade. Todo mundo DEVE SOFRER. Sem sofrimento, sem tragédia shakespeariana, a pessoa se sente culpada, envergonhada de não estar SOFRENDO O SUFICIENTE nesse mundo. Mundo que é, sabidamente, para as religiões judaico-cristãs um lugar de provação e sofrimento.
As pessoas se envergonham, sim, de se manterem como felizes personagens de um filme de comédia porque foram treinadas para ser personagens de um dramalhão mexicano. Felicidade não faz ninguém entrar no céu - depois da morte, naturalmente - e se você se sente feliz e relaxada nessa mundo é porque é uma boba alegre sem noção das desgraças e crueldades que existem à sua volta.
Quanto mais o palco for composto por vicissitudes e desgraças, mais você precisa estar suficientemente relaxada e bem humorada para representar a sua personagem. Personagem essa que, quanto mais relaxada e bem humorada for, mas dará conta de lidar com as merdas do palco, isto é, do mundo em que está vivendo.
Agora, imagina só, um palco de merdas e mais merdas com uma personagem sofrida e merdificada, carregando o peso de cruzes-credo e credos-em-cruz, num script de medo, angústia e desolação permanentes. É inferno que chama, né?
Dá pra dar um comando de reconfiguração, sim, no seu sistema. Reprograma-lo para ser uma personagem feliz, a despeito das circunstâncias infelizes do palco. Dá para deixar de ser essa personagem sofrida e trágica dentro desse enredo de miséria e desolação.
A escolha é sim, só sua. E nem precisa me perguntar como. Todo mundo já nasce com a resposta.
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