quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Apenas o Próprio Umbigo

Amor ao próximo não é algo que nasce com a gente, mas algo que se aprende através do convívio com a diversidade que constitui a espécie humana. Amor ao próximo nada mais é do que reconhecimento, aceitação e respeito pelo que o outro tem ou é diferente de mim. É preciso ser uma pessoa altamente evoluída e despojada para praticar esse amor em toda a sua extensão e profundidade. 

Não espere nenhuma forma de amor ao próximo de alguém que se julga portador de verdades absolutas, dogmas e tabus que não admitem crítica ou contestação de qualquer espécie, sob pena da perseguição e destruição sumária dos contestadores. 

Apesar de ostentarem o rótulo solene de “cristãos”, religião baseada na ética do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo, boa parte dos seguidores de Cristo jamais conseguiram expressar amor ao próximo. O que professam, quando muito, é amor ao próximo que lhe for próximo, ou seja, ao seus iguais, aos seus pares, aos membros das suas próprias seitas. Esqueceram-se completamente das palavras de Cristo em que ele ensinava que amor ao próximo era também amor aos seus diferentes e até aos seus inimigos. 

A vida me ensinou que quanto mais tosco, mais primitivo, mais inculto, rude e safado, mais arrogante e vingativo o sujeito é. Coisas como compreensão, aceitação da diferenças, esquecimento e perdão estão completamente fora da órbita de gente estúpida, intelectualmente limitada e emocionalmente recalcada. Membros de seitas cristãs e demais religiões fundamentalistas se enquadram perfeitamente nessa definição, mas estão longe de serem os únicos. 

Pessoas apegadas ao dinheiro e ao poder, que buscam obter a qualquer custo e a qualquer preço, desprezam igualmente toda forma de amor ao próximo, preferindo deixar que seus “diferentes” morram de fome, ao mesmo tempo em que os exploram ao máximo de obter lucros exorbitantes. Nessa categoria se enquadram políticos corruptos, empresários oportunistas e funcionários do estado que se valem da sua condição para sugar a sociedade dia e noite, única e exclusivamente em benefício próprio, sem devolver um único centavo para o bem da coletividade. 

Na verdade, é imenso esse grupo de pessoas desamorosas ao próximo e constitui, infelizmente, o grosso da humanidade nessa atual fase do processo civilizatório, em que ainda predominam valores como cobiça, inveja e individualismo exacerbado. Mas eu não poderia terminar esse texto sem mencionar a classe de intelectualoides, que se apegam ao conhecimento acadêmico em si, desprezando solenemente qualquer extensão ou doação desse conhecimento à coletividade. Apesar dos ares progressistas que essa gente ostenta, continuam muito distantes da prática efetiva do amor ao próximo que, no caso, seria a universalização do conhecimento a todos os tipos de pessoas, independentemente de gênero, raça, idade, escolaridade e classe socioeconômica. 

A grande revolução será feita a partir desse simples princípio, que é o amor ao próximo como a forma mais elevada de existência das sociedades humanas. Jesus Cristo sabia disso. Marx também. Assim como Freud, Einstein, São Francisco e Martin Luther King. Pessoas que, apesar de tão diferentes entre si compreenderam que a existência humana só tem significado dentro da coletividade. Ao contrário daqueles que enxergam apenas e tão somente o próprio umbigo, acreditando tolamente que podem existir sem a existência dos outros. 

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