quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

A Aprovação dos Outros

É inegável a importância do feedback dos outros ao nosso respeito, como é uma das grandes marcas de maturidade uma pessoa ser capaz de receber e avaliar apropriadamente o que os outros pensam a respeito do seu desempenho. 

Da mesma forma, existem inúmeras situações em que o aplauso dos outros pode e deve ser recebido como reconhecimento e recompensa por um trabalho bem feito, assim como a desaprovação deles pode ser um importante alerta de que eu estou trilhando um caminho perigoso.  

O problema é que muitas pessoas vivem num permanente estado de tensão que consiste em pedir a aprovação e esperar o aplauso dos outros para as coisas que fazem ou desanimar e se desesperar diante de qualquer sinal de desaprovação da parte deles. Esse quadro psíquico configura uma necessidade compulsiva de aprovação e de não-reprovação dos outros, fazendo a pessoa remontar a uma infância e adolescência (ainda não superadas), em que tudo dependia da aprovação de papai e mamãe, assim como a simples possibilidade de desaprovação deles fazia com que a criança desistisse de fazer alguma coisa. 

A rigor, qualquer que seja o método adotado, educar corresponde à superação do binômio aprovação-desaprovação em favor do desenvolvimento de consciência própria e autonomia para tomada de decisão. Paradoxalmente, contudo, mesmo os métodos educacionais mais progressistas não dispensam inteiramente o uso do binômio aprovação – desaprovação como forma de levar a criança e o adolescente a alcançarem autonomia e crescimento pessoal.  

Junte-se ao “zelo excessivo” dos pais em aprovar e desaprovar os comportamentos dos seus filhos o zelo da escola em classificar seus alunos a partir de processos educacionais de aprovação-reprovação, e o resultado é esse enorme contingente de pessoas que passa a vida dependendo de aprovação e/ou evitando sistematicamente a desaprovação dos outros. 

São pessoas que não lograram desenvolver nem autonomia, nem autoestima, nem discernimento, nem autorreferenciação. Que, na maioria das vezes inconsciente e persistentemente, vivem implorando, mendigando, a autorização dos outros para fazer as coisas mais simples e elementares da vida. Que vivem sofrendo muito além da conta com qualquer comentário de desaprovação que recebam.  

Superar a ancoragem psíquica no binômio aprovação (autorização, aplauso) – desaprovação (reprovação, crítica, bullying) é um desafio e tanto, especialmente na meia idade, quando se acendem os avisos do tipo “olha o que é que você anda fazendo da sua vida”. Sem senso de autonomia, com baixa auto-estima e uma péssima referenciação, a pessoa pode entrar em severa depressão ao perceber que não está sendo capaz de obter aprovação/aplauso do mundo e/ou não está sendo capaz de evitar a desaprovação dos outros. E é uma coisa muito difícil substituir uma vida até então vivida em função das reações positivas ou negativas dos outros por uma vida baseada nas próprias escolhas e decisões pessoais.  

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