quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

Lado Sombra

O conceito de “lado sombra” foi introduzido por Jung para designar a parte renegada do eu de cada um, formada a partir de todos os aspectos e características que rejeitamos, dos quais nos envergonhamos e que, por isso mesmo, sistematicamente reprimimos e recalcamos. 

O lado sombra existe em cada indivíduo como parte constitutiva do seu próprio ser, sendo constituído por emoções, desejos ou necessidades as quais foram duramente abortadas, negadas, repelidas e repudiadas cada vez que apareceram na vida de uma pessoa. Pode ser visto como um sótão, escuro e sombrio, para onde enviamos todos os traços repulsivos e apavorantes da nossa personalidade que, apesar de serem parte efetiva do nosso próprio ser, são considerados feios, maus, nocivos, inconvenientes e danosos pela sociedade, devendo por isso mesmo serem renegados e excluídos da nossa vida diária.  

Esses elementos abomináveis e repulsivos podem ser reprimidos, mas nunca destruídos, permanecendo vivos e ativos no nosso inconsciente. Assim, aqueles traços pessoais que você mais repudia e mais teme deixar transparecer no seu comportamento podem surgir repentinamente, de maneira abrupta, como numa explosão de ódio guardado ou de uma inveja do outro que é impossível não ser notada pelas outras pessoas.  

Quanto mais alguém nega e recalca seu lado sombra, mais vulnerável fica a manifestações intempestivas das caraterísticas e aspectos individuais que foram reprimidos. Mas, encara-lo de frente, é também uma experiência que requer enorme coragem e determinação pessoal. Não é fácil para ninguém reconhecer e aceitar os aspectos mais sinistros e macabros do seu próprio ser.  

O lado sombra é uma parte viva da nossa personalidade e, como tal, também deseja expressar-se no mundo de alguma maneira. Cada dor, medo, raiva, ódio, inveja, ciúme e angústia, assim como cada desejo de vingança e de destruição do outro e cada desejo ou vício recalcado, torna-se um novo fantasma a povoar o nosso lado sombra, uma parte de nós mesmas duramente repelida e recalcada que passa a lutar com todas as suas forças para retornar à luz. 

É impossível alguém descobrir a intensidade da sua luz sem se defrontar ao mesmo tempo com o tamanho da sua sombra. Mas quem for capaz de suportar a presença desconfortável e inconveniente da sua própria sombra, abre uma nova perspectiva para compreender que não há luz sem sombra. E que quanto maior a intensidade da luz, maior é o tamanho da sombra.

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